JORNALISMO, COMUNICAÇÃO E DEMOCRACIA

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Jornais comunitários ensinam grandes lições de cidadania

Por Camilla Hoshino

Não existe uma ‘fórmula mágica’ que garanta a eficiência do jornalismo local ou da comunicação que pretende mobilizar moradores de um bairro por meio de um jornal comunitário. Cada vez mais, a internet, dispositivos digitais e as próprias transformações sociais que surgem em determinadas regiões apontam novas possibilidades de acesso e produção de informação. Em todo caso, para que haja interesse e interação, é preciso que conteúdos, temas e o próprio formato da comunicação faça sentido para as pessoas que vivem na região.

“o modo como se comunica muda visões de mundo, assim como fortalece a democracia”

A experiência do jornal comunitário Folha do Sabará, construído na região metropolitana de Curitiba durante quase dez anos, merece ser resgatada. Não apenas porque simbolizou um esforço conjunto de moradores locais e comunicadores externos de espalhar informações da região, dialogar com o poder público e movimentar vizinhos em torno de temas coletivos como habitação, saúde, educação e segurança pública, mas também como um veículo que provou que o processo como se produz a informação é relevante.

Histórico

A Folha do Sabará foi uma produção organizada pelas associações de moradores Jardim Eldorado, Nova Conquista e Esperança desde 2007 até o início de 2016. Gratuito, com três mil exemplares de tiragem e periodicidade bimestral, o jornal nunca teve fins lucrativos ou posições político-partidárias. Contava com a participação de membros da comunidade em todos o processo de produção desde a formulação de pautas até a distribuição, junto com a colaboração de um coletivo de comunicadores de outras regiões da cidade. Além disso, a impressão do jornal foi sempre custeada a partir da venda de anúncios negociados com o comércio local, a preços bem abaixo do comum. Essa foi uma maneira de envolver mais os moradores na produção do jornal e fortalecer o comércio local ao mesmo tempo.

Desafios

Após anos de circulação, entre as dificuldades de manutenção do projeto, especialmente de seu formato coletivo, dois grandes aprendizados se destacaram. O primeiro é que, para haver uma
participação engajada dos moradores na construção de um veículo de comunicação, é preciso que haja organização e mobilização local em torno de temas de relevância local. No caso do Sabará, por exemplo, o tema da moradia popular foi um dos mais retratados no jornal por ter relação com a história da região. O segundo, para jornalistas e comunicadores não moradores do território, fica sempre o desafio de conhecer a histórico de um determinado bairro ou comunidade a partir de formas mais participativas. É preciso vivenciar de perto as realidades, eventos, manifestações e entender necessidades. Só compreendendo o contexto local, junto com seus conflitos políticos, suas necessidades e sonhos, será possível intervir nessa realidade.

Hoje, o jornalismo local se redescobre. Experiências locais das mais diversas proliferam em todos os cantos do mundo e devem ser incentivadas. Talvez nelas se possa encontrar não apenas uma possibilidade de negócio como muito se pensa, mas uma forma de resgatar e fortalecer formas de exercício da cidadania. E o modo como se comunica muda visões de mundo, assim como fortalece a democracia. 

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