UNIDADE DA FAS INTEGRA HAITIANOS À COMUNIDADE NA REGIONAL CIC

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Conhecer a realidade, as demandas e a cultura de parte dos haitianos que escolheram Curitiba para viver é prioridade na Unidade de Atendimento Corbélia, integrante da rede de atendimento da Fundação de Ação Social (FAS) na Regional CIC. Encontros de mobilização e comemoração dos aniversariantes do mês estão entre as estratégias usadas pela equipe local para atrair esse público, que está correspondendo ao esforço.

O motivo do interesse pelo grupo é o aumento do número de haitianos na área, especialmente observado nos últimos oito meses. “Notamos que, por alguma razão, mais pessoas estão chegando. Porém, temos que dimensionar essa presença no território com precisão, para que a Prefeitura possa atendê-los adequadamente e também para deixar claro que eles são bem vindos”, explica a coordenadora da unidade, a psicóloga Lissandra Medeiros Santos.

Cerca de 200 famílias haitianas vivem no território do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) Alto Bela Vista, ao qual pertence a Unidade Corbélia. Destas, perto de 80 estão instaladas na Vila Tiradentes – uma das cinco ocupações irregulares existentes na área da unidade e que abrigam cerca de 1.100 famílias brasileiras e estrangeiras. Cerca de 30% das 160 famílias acompanhadas mensalmente pelo serviço vieram do Haiti.

Identidade cultural

O primeiro passo rumo à aproximação foi dado neste mês, quando uma reunião de mobilização em pleno dia de semana atraiu 23 participantes e superou a expectativa das organizadoras do evento. “”Esperávamos umas dez pessoas e eles nos surpreenderam”, disse a coordenadora. A equipe da unidade  ambientou a sala reservada para a reunião com música do Haiti e precisou buscar mais cadeiras para acomodar os participantes. No encerramento foi oferecido um lanche e, de presente, o livro “Alegres memórias de um cadáver”, de Roberto Gomes.

“A ideia é que eles vejam a unidade não apenas como um órgão público para se informar sobre como obter documentos e buscar vale-transporte e cesta básica, mas como um espaço de respeito e reconhecimento da sua cultura, um lugar de alegria e pra chorar de saudade também”, observou  gerente da área de Proteção Social Básica, Karlin Lessmann.

Participação e interesses

As mulheres somaram 21 dos presentes ao encontro – entre elas três com seus bebês e uma gestante. Houve quem deixasse de trabalhar para atender à convocação. Foi o caso da auxiliar de enfermagem Amance Osirus, que atua como cuidadora de idosos e revelou ter saudade do seu país. “É um lugar lindo, gostoso de viver, mas falta trabalho e o governo de lá não ajuda. Então, precisamos sair”, disse.

A maioria expressou interesse em aprender ou falar minimamente o Português, primeiro obstáculo à adaptação de qualquer estrangeiro ao Brasil. A comunicação esbarra na questão econômica, pois dificulta o acesso ao concorrido mercado de trabalho e à remuneração regular.

Prevendo a dificuldade de expressão dos haitianos, a reunião contou com a ajuda da dona-de-casa Comserve Sossou, que vive na comunidade, e do voluntário Lucas Cezar de Oliveira. A dona-de-casa mora na comunidade e domina o dialeto creole. Já o voluntário é estudante de arquitetura e funcionou como intérprete de Francês.

Também pensando em conseguir emprego, os haitianos aproveitaram o encontro para se informar sobre como fazer cursos que os habilitem a trabalhar como operadores de caixa, balconistas, padeiros e confeiteiros, costureiras e chefes de cozinha, alguns ofertados pelo programa Liceus de Ofícios, da FAS. “Por isso é importante a presença de vocês aqui e também que se inscrevam no Cadastro Único da Assistência Social. Assim podemos saber quem são e do que precisam”, disse a gerente de Proteção Social Básica.

Cursos, vagas e expectativas

Mesmo com as restrições impostas pelo idioma, os haitianos são os estrangeiros que mais se inscrevem nos cursos de qualificação oferecidos pela Prefeitura. Neste ano, dos 140 inscritos para os cursos oferecidos, 74 vieram do Haiti. Eles buscam preparação, principalmente, nas áreas de informática, costura e processos de produção. A maioria, 37 trabalhadores, tem Ensino Médio completo.

Assim como os demais imigrantes, os haitianos também são acolhidos pelos postos municipais do Sistema Nacional de Emprego (Sine), localizados nas Ruas da Cidadania. De 2017 para cá, eles ficaram com 45 das 61 vagas de trabalho conseguidas por estrangeiros. Foram 32 em 2017 e 13 neste ano. Os dados de 2018 são parciais. Os setores de limpeza e de alimentação foram os que mais absorveram a mão-de-obra.

Há cinco anos no Brasil, Mirclauthir Saint Jean ainda não fala bem Português mas conseguiu trabalho de faxineira em uma das unidades do Colégio Adventista. Por ora, está de licença maternidade. Há pouco menos de dois meses ela deu à luz o menino Wood Myson, seu segundo filho, e ainda demora a voltar ao emprego.

Como as gestantes de Curitiba que usam o Sistema Único de Saúde (SUS), ela fez acompanhamento pré-natal perto de onde mora, na Unidade de Saúde Barigui. Na gestação anterior – da pequena Mircalove Perceval, de 3 anos – os cuidados ficaram por conta da Unidade de Saúde Vila Leão, na Regional Portão. É lá que a garota ainda mora com o pai e há dois anos estuda na creche da Prefeitura de mesmo nome.

Trabalhador da construção civil em seu país de origem, Prenel Moliere está em Curitiba há quatro anos e busca oportunidades de trabalho na área.  “Tenho Ensino Médio completo, mas quero fazer cursos sobre como se trabalha aqui”, disse ele, que também se preparava para se cadastrar no sistema da assistência social.

O próximo encontro destinado apenas aos moradores de origem haitiana da área de abrangência da Unidade de Atendimento Corbélia será no próximo dia 12. A data marcará a comemoração de aniversário dos nascidos em dezembro e, de acordo com o sugerido pela intérprete de creole, contará com pratos típicos do seu país feitos pelos próprios moradores.

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