Por Vinícius Sgarbe, jornalista. Publica no Brasil e exterior
Temos o assunto dos abusos para conversar – os abusos às nossas comunidades que não podem e não vão passar despercebidos. Eu lhe convido a ler sem tantas reservas, porque somos maiores que o PT ou o PSL. No último domingo, o presidente Jair Bolsonaro foi eleito democraticamente e, se estivermos atentos, será sempre assim: voto depositado em urna confiável concede mandato a quem o povo escolhe. Mas convido a olharmos para uma fala da professora alemã Dra. Hanna Knapp que ouvi recentemente. Escrevo sobre a Alemanha para que possamos nos comparar a um país melhor que o nosso e não pior.
É um panorama. A Alemanha – além da importância histórica – mantém o protagonismo na União Europeia e é uma das maiores economias do mundo. Esse país, e daqui pra frente engrossa a nossa conversa, está atento às políticas para refugiados e à violência de grupos neonazistas. O Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, na figura do ministro Heiko Maas, pede ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, uma atitude cordial. Tal atitude é ampla e futurista, passando por acordos econômicos e direitos humanos. A contar pelas falas de professores (a historiadora brasileira Francielly Barbosa pesquisa a os desdobramentos do nazismo em Curitiba) e do conteúdo das notícias, entendemos a preocupação alemã: eles trabalham para evitar que os acontecimentos trágicos da Segunda Guerra sejam repetidos. Apesar da Alemanha ser um país democrático, de imprensa livre, grupos favoráveis a crimes são impedidos de propagar ideias. Daí é que vem o “paradoxo da intolerância”. Paradoxo é uma “opinião contrária à comum”. Um exemplo nos ajuda.Hipoteticamente, um grupo que agride e mata (ou que acredita que agredir e matar são caminhos para o mundo) – neste exemplo um grupo neonazista – deve ser combatido para que não agrida e não mate. A Alemanha e outros países entenderam que se deve oferecer intolerância para os intolerantes. Por isso é que se chama “paradoxo da intolerância”. A experiência alemã é a de que passo a passo se pode chegar à morte de milhões de pessoas. Para quem entende a matança de humanos como atrocidade irreparável, grupos violentos – de direita, de esquerda, abusadores disfarçados de #lulalivre ou #b17, e uma lista enorme – devem ser alvos próximos de nossas polícias e nossas lideranças comunitárias.
Bem acima da eleição, a retirada de um faixa antifascista de uma universidade é um alarme – e isso aconteceu factualmente, no Brasil. Um degrau, depois outro, depois outro. Ora, se alguém é efetivamente fascista, essa pessoa tem problemas com a polícia. Que há uma crise ética nas universidades ninguém tem dúvida (poderíamos mencionar a instalação de comitês eleitorais dentro delas, por exemplo). Universitários chegam ao mundo do trabalho frequentemente perdidos. Mas, se universitários não podem ser antifascistas, a crise ética está também nas famílias, nos governos e nas polícias. No ano passado, realizei entrevistas com professores, historiadores, delegados e psicólogos para falarmos, jornalisticamente, sobre os grupos violentos – mas os editores a quem ofereci o material não consideraram a pauta suficientemente relevante.