DA CIC PARA O MUNDO – entrevista com Mano Cappu

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Jornal da CIC: Mano Cappu, conta pra gente um pouco sobre a sua infância
MC: Primeiramente quero agradecer pelo espaço, me chamo Rodrigo Pinheiro, conhecido como Mano Cappu, vim de Colombo com 11 anos de idade aqui pra CIC, ou seja, já fazem 20 anos que moro aqui no bairro, mais precisamente no Diadema II, vila que faz meu coração
bater mais forte, mesmo em meio a tantos problemas.

Jornal da CIC: O que te levou a procurar o rap e as artes?
MC: O que me impulsionou para arte foi a violência, o hip hop foi minha válvula de escape, na minha época de adolescente era difícil não se deparar com uma situação de violência, seja dentro de casa, na escola, nas ruas a violência dava as cartas, ela era a “solução” para
tudo, o rap veio na contramão, muita gente acha que o rap faz apologia ao crime, mas não faz, ele é sempre ágil como um jornal, relatando os problemas dos bairros periféricos de todo país. Meu primeiro contato com o rap foi quando ouvi Racionais – Sobrevivendo no Inferno, mas aqui na CIC foi com o J.A.C grupo de rap nascido no bairro, que por meio da música “CIC” denunciou diversos problemas do bairro.Eu dei início na minha carreira como rapper aos 15 anos de idade, porém, não levava a sério, mas, após um revés que vivenciei em 2011, isso mudou e passei a levar a sério meu talento. Eu passei 18 meses privado da minha liberdade por um crime que não cometi, fiquei longe das minhas duas filhas e não vi meu terceiro filho nascer, foi uma carga muito pesada sobre meus ombros. Isso aconteceu por uma imprudência policial, minha família fez diversos pedidos para que o caso fosse analisado, porém nada foi feito. Eu tive que me reinventar nesses 18 meses que vivi atrás das grades. Um dos episódios mais difíceis que vivenciei nesse período foi quando eu e meu pai ficamos presos na mesma cela, ele estava pagando pelos seus erros, mas ficou indignado ao me ver, e foi ali que vi uma oportunidade de resgatar meu pai da vida do crime, parei e compus uma música pra ele, que se chama “Chorona” (está na minha Mix Tape – Mano Cappu – Não Pare Agora), e hoje graças a Deus, família e a música, meu pai não faz mais parte do universo do crime, ele trabalha registrado de segunda à sexta em uma empresa aqui no bairro mesmo. Foi por meio dessa música que vi o quanto a arte é poderosa e como ela tem um poder de resgate imenso.
Já fazem 6 anos que estou em liberdade, fui absolvido de todas as falsas acusações e essa é a história que a vida me deu para resgatar jovens do submundo do crime. Palestrei em diversas escolas, Cense e diversos locais em Curitiba e Região.

Jornal da CIC: Conte um pouco sobre os trabalhos que você já realizou:
MC: Após o revés vivido, lancei um álbum em 2014 Mix Tape – Mano Cappu – Não Pare Agora, dei início a um livro que fala sobre os 18 meses privado da minha liberdade, este trabalho tem como intuito principal colaborar com a reinserção social de detentos, acredito que em
2019 estará nas ruas, e em 2016 fechei um trabalho genial com a Grafo Audiovisual, uma das maiores produtoras de cinema do país, o filme ‘’Nóis Por Nóis’’ foi gravado na CIC, dos diretores Aly Muritiba e Jandir Santin, com o elenco principal formado por jovens moradores
da região, o filme conta a história de dois jovens negros que sonham em ter sua própria empresa de audiovisual, mas uma tragédia interrompe os sonhos deles. A trama tem estreia nos cinemas prevista para 2019. Após esta parceria com a Grafo, as portas para outros trabalhos audiovisuais voltados para o cinema foram abertas aqui no bairro, meu amigo e sócio no ramo da música, Betinho Celanex é uma das pontes que trás o cinema até o bairro, Paixão Nacional – Jandir Santin – 2014, Nois Por Nois -Aly Muritiba e Jandir Santin – 2016, Tentei – Laís Melo – 2017, Chão de Rua – Tomás Mancino – 2018, Ursa – Wilian de Oliveira – 2018 e Mirador – Bruno Costa – 2018. Em uma conversa que tive com o Antônio, produtor executivo da Grafo, ele disse que “A CIC se tornou um polo para o cinema nacional.’’ E eu, faço as dele minhas palavras, o nosso bairro está em ascensão no audiovisual. E a com toda essa experiência e um time da pesada do cinema nacional, tanto eu como o Betinho passamos a usar a metodologia do cinema em nossos clipes, só no ano de 2018 eu lancei cinco videoclipes. Pra mim isso é motivo de orgulho, a música de mais sucesso por hora no canal é a ‘’Disciplina’’, o som é uma parceria com o MC Shat e Betinho Celanex, fizemos um rap com funk e o tema do som é trabalho e a disciplina, que ao meu ver são duas chaves essenciais para o sucesso em qualquer área da vida.

Jornal da CIC: Você está com um clipe novo que está para ser lançado no começo de janeiro, o que podemos esperar?
MC: No dia 2 de janeiro de 2019 vamos lançar o clipe ‘’Corruptos’’, com participação especial de Zidane, esta é uma faixa inédita que integra meu novo álbum, em parceria com a Grafo, Cwblack e Cripta Produções.Este novo trabalho vai contar com as cenas do longa metragem Nóis Por Nóis, e também relatar as agressões e a corrupção policial. Eu faço questão de deixar claro em meus trabalhos que, não sou contra a polícia, porém, não é certo um homem se apropriar de uma farda que tem como objetivo servir e proteger tudo e todos para propagar crimes de toda natureza. É triste pra gente que mora em periferia ver essa proteção seletiva, e com o que vem acontecendo nos últimos dias isso fica ainda mais notório, eu sei que a polícia é feita por homens e homens são cheios de falhas, mas se os homens desta corporação erram, precisam ser culpabilizados e punidos, e o papel da PM é contribuir com a reparação dos erros cometidos diante da sociedade. Infelizmente já vi pessoas simples defendendo a
corrupção da polícia, falando sobre os seus baixos salários e o risco que eles correm, mas ao meu ver isto não justifica este desvio de caráter, a grande maioria dos brasileiros ganham salários baixíssimos e mesmo assim eles não se corrompem, eles se mantém
idôneos. Mas no dias atuais com tantos escândalos no país e com essa falsa sensação de justiça feita, eu até me sinto utópico com meu real desejo. E o
problema não é somente da polícia ou do governo, é de todos nós, todos somos brasileiros e devemos lutar por mudança, e lutar por mudança vai muito além de eleger um presidente e acreditar cegamente que ele vai resolver todos os problemas do país.

Jornal da CIC: Dê um recado para os jovens do bairro
MC: E aos guerreiros e guerreiras aqui do bairro CIC e todas as periferias desse Brasil, quero dizer que é a hora da gente renascer das cinzas, é tempo de correr atrás de conhecimento, não dá mais para ficar de braços cruzados esperando as portas se abrirem e as oportunidades virem de mãos beijadas, temos que ir pra cima dos nossos sonhos, sonhar todo mundo sonha! Mas só vive do sonho aquele que acorda e vai pra luta. Da CIC pro mundo!

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