“O Senhor das Moscas” é um romance de William Golding, que também foi adaptado para o cinema. Quase 70 anos depois, continua despertando debates e impactando pessoas. O livro conta a história de um grupo de crianças que, após um acidente, se veem perdidos e sozinhos em uma ilha no Pacífico, sem nenhum adulto para orientá-los. A partir daí precisam tomar decisões que impactam a vida de todo o grupo. A premissa filosófica do filme é básica: quem somos nós no Estado de Natureza? No começo, tudo é facilmente decidido, todos cedem parte de sua liberdade individual em prol da coletividade e não há conflito. Em determinado momento, os recursos vão se tornando escassos, as necessidades básicas já não são supridas de forma ideal, o que gera conflitos de toda sorte, e após muitas disputas pela liderança, o grupo entra em colapso e rompe. O ser humano em seu Estado de Natureza emerge e o horror começa.
Por meio da violência, um dos grupos consegue agregar mais membros e convencê-los a usurpar itens do grupo “rival” e até mesmo persegui-los e agredi-los. Ha essa altura, já está bem claro que se trata de uma alegoria sobre a democracia e o fascismo. O grupo “democrático” está completamente desfalcado e o “fascista” cheio de adeptos. Com excessão de dois personagens, todos os outros membros do grupo “fascista” não são agressivos e egoístas, o traço que os marca é a covardia, a falta de inicitiva própria, a indiferença. Os personagens verdadeiramente agressivos criam uma fantasia de perseguição, um monstro da caverna, para ganhar mais atenção do grupo e justificar suas ações. Graças aos membros indiferentes, é que o discurso de perseguição e violência toma proporções homéricas. Não importa mais que em seu íntimo carregem sentimentos de dúvida, medo ou aflição, ou que argumentem que nunca fariam tais coisas se não estivessem na ilha. Afinal, os tiranos decidem mas o grupo acata. Eis o poder da indiferença.