“Memória Mural”, “Escadão do Rap” e cursos pré vestibulares são alguns dos projetos organizados por líderes comunitários na CIC.
Por Larissa Santin
Alex Otto, 42, presidente do Instituto CooperaCIC, é morador da Cidade Industrial desde o início. “Desde o meu início”, explica Otto, em tom descontraído. Sua família foi uma das primeiras a mudar-se para as coabitações construídas da região Nossa Senhora da Luz em meados dos anos 60 e, portanto, pôde observar de perto todas as mudanças que ocorreram ao longo das décadas no bairro. “Aqui na Nossa Senhora da Luz que surgiu as primeiras coabitações do Brasil”, ressalta o líder comunitário. Na década de 70 a CIC representava cerca de 25% do ICMS do estado do Paraná inteiro, mesmo assim, a região sofria com a precariedade dos serviços públicos e com um alto índice de criminalidade – este último, teve seu ápice nas décadas de 80 e 90, onde houve o “boom” das ocupações na região. “Criou-se um estigma que a região é perigosa, que aqui morre gente. E isso ficou até hoje, sendo que agora é tranquilo”, afirma Alex.
Para Otto, a cultura e a educação são elementos que trabalham com o desenvolvimento do ser humano e que esbarram, necessariamente, nas questões de segurança pública.“Existe uma relação na periferia, que éda parceira. Como se fosse uma cidadezinha do interior, se acontece alguma coisa com um morador, todo mundo fica sabendo”. Inspirado por esse fato, iniciou os primeiros movimentos para realizar atividades que pudessem beneficiar os jovens da região e mais um pouco: que esses jovens pudessem ensinar outras pessoas aquilo que aprenderam. As entidades locais possuem um papel fundamental na região. Não vinculadas ao estado ou ao município, desenvolvem projetos, oferecem cursos, oficinas e também promovem campanhas de arrecadação. Esses serviços básicos e educacionais, que muitas vezes não chegam até o local pelas mãos da ação estatal, representam muito para o morador, que encontra ali um espaço de acolhimento e de oportunidades.
Desde 2004 o Instituto CooperaCIC realiza diversos projetos. O primeiro deles foi transformar uma antiga escadaria, utilizando arte gráfica, criatividade e colaboração. O resultado tornou-se o “Escadão do Rap”, onde os jovens reúnem-se, de 15 em 15 dias, para cantar rap. Os encontros acontecem até hoje nas quintas feiras, em frente ao terminal do CIC. Nem todos os projetos dão bons resultados, como foi o caso da oficina de leitura, que acabou terminando por falta de público.
Os cursos pré-vestibulares realizados pela CooperaCIC em parceria com escolas e entidades religiosas, possuem uma série de dificuldades. A cada 40 alunos que ingressam no curso, apenas 13 chegam a concluí-lo. “São as adversidades que a população da periferia está submetida. O cara não pode estudar, tem que ajudar em casa. Às vezes já tem filho. Então ele prefere trabalhar que estudar”. Em relação aos resultados, Otto enxerga com entusiasmo que 8 em 13 que terminam o curso, passam no vestibular. O que também provoca mudanças nas pessoas ao redor. “Aqui o pessoal não tem costume de ter terceiro grau. Mas aí um consegue, outro também, isso muda a realidade ao redor”, finaliza Otto.
Arte como memória
Em 2014, via Lei do Fundo Municipal de Cultura, Otto produziu o “Memória Mural”, sob coordenação de Paulo Auma, que consiste em uma série de murais, representando de forma artística a história do bairro. O projeto tinha como principal objetivo em fomentar ações culturais na região. Foram oferecidas oficinas de fotografia, teatro, pesquisa, pintura, entre outras, e a partir delas os participantes puderam produzir os cinco grandes murais que fazem o registro histórico da região.