Manual para não ser passado para trás

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Fake news estão por todo lado. E tem quem se aproveite.

Por Vinícius Sgarbe, jornalista. Publica no Brasil e exterior.

Quando, há mais de dez anos, ingressei na faculdade de jornalismo, falávamos muito frequentemente sobre as  mudanças iminentes da profissão. Dentre elas, o fortalecimento da conectividade em rede – essa coisa que, através dos celulares, fotografa ou filma praticamente tudo. Bons comunicólogos (porque somos estudiosos da comunicação social) não se afetam por isto: os aparelhos estão melhores e nossas comunidades podem acessar mais informações. Porém, sempre há um “porém”. Apesar de avanços como a Lei de Acesso à Informação, dos sites colaborativos de conhecimento, como a Wikipedia, ou das campanhas de jornais ou universidades contra as fake news, pessoas muito importantes para o bom rumo do país estão caindo fácil na boataria: eu, você, nossas famílias. Sabemos que a disseminação de tanta bobagem interessa especialmente a políticos ruins e gente intolerante.

Do que falamos? Não à toa, a Justiça Eleitoral e a Polícia Federal estão concentradas em coibir esse tipo de notícia falsa. Os entraves são muitos, porque é preciso aprimorar a legislação. Além do mais, como saber se um conteúdo inverídico foi publicado maliciosamente ou por reles ignorância? Desde os anos 90 e-mails falsos circulam pela
internet e sempre há quem caia, acreditando em verdadeiros absurdos e ainda passando para frente. Ainda mais perigoso quando a procedência é quase inverificável, como no caso do que chega pelo WhatsApp. Tudo bem não gostar de Pablo Vittar – é ruim para diabo mesmo. Mas, não é verdade que a Lei Rouanet patrocinará obras do artista; também não é verdade que Chico Buarque comprou as letras; que Titirica renunciou para dar a vez para
Genoíno. Não é verdade que uma rodela de cebola limpa o sangue, que maionese serve para limpar louças sanitárias; o Senado já desmentiu a história do auxílio reclusão que vale milhares de reais.

Há poucos meses, recebi a foto de um homem junto a um áudio sobre ele roubar crianças – uma mulher começava dizendo “paz do Senhor, irmãos”, e sentava o cacete no ladrão (certo de que aquilo era mentira, enviei de volta o mesmo áudio para o remetente da mensagem, mas com uma foto minha, para ilustrar o perigo daquilo). Às vezes, são posts que parecem sérios, porque vêm de pessoas confiáveis (do trabalho, da igreja), com imagens bacanas e intenções aparentemente ingênuas, embora não passem de joio.

Caímos por quê? Em geral, estamos insatisfeitos com as novas relações trabalhistas, com o que pode ser de nossas aposentadorias, com a sensação permanente de que os poderosos não são devidamente punidos quando erram feio e flagrantemente – e se estivermos atentos às últimas fofocas, então estaremos também distraídos para votar mal – de novo. Podemos nos precaver. Se houver frases inteiras em letras maiúsculas, ou excesso de emojis (as carinhas do teclado do celular), ou mensagens muito óbvias, recheadas de emoções, fique alerta! Você pode estar sendo passado
para trás.

Os danos podem ser maiores. Na semana passada, um grupo de oncologistas italianas fez uma alerta sobre as publicações mentirosas – como imãs de geladeira causam câncer, ou que a quimioterapia não funciona. Com tantas fraudes em nossas rotinas, fica cada vez mais difícil discernir o que se espalha somente para nos confundir, como a suposta separação de Richa e Ratinho – fórmula que já deu certo quando Taniguchi precisava passar a prefeitura para frente – ou de deputados que votaram com Temer contra as investigações de corrupção agora contarem histórias de oposição ao presidente.

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