BRASILEIRO NA CHINA: COMO É A VIDA PÓS-PANDEMIA DE COVID-19

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Erasto Cruz vive há dois anos e meio em Zhuhai, na província de Guangdong,
e viveu todos os estágios da contenção do vírus no gigante asiático.

 

O tradutor e doutorando em Estudos Literários e Interculturais na Universidade de Macau, Erasto Santos Cruz, 35, conversou com o Jornal da CIC para contar como é o momento pós-pandemia na China.

JC – Você já estava vivendo na China quando começou a epidemia. Como foi esse momento?

E -No começo da epidemia, eu e minha esposa, que é chinesa, passávamos o dia inteiro em quarentena voluntária, saindo de casa só uma vez por semana para comprar comida. As ruas estavam vazias e só se podia entrar em estabelecimentos como mercados e farmácias de máscara e depois de termos a temperatura medida por um funcionário que fica na porta. Os chineses agiram de forma muito coordenada com as recomendações do governo e não faltou nada nos mercados e os preços também não subiram. Ficamos nessa rotina por dois meses.

JC – Atualmente o vírus está controlado no território chinês, como você recebeu a notícia?

E – A notícia da contenção veio duas semanas atrás. Desde a semana passada a minha esposa voltou a trabalhar. De duas semanas para cá o número de casos novos internos é praticamente é zero. As lojas que estavam fechadas começaram a abrir, fábricas voltaram a operar. Há bem mais gente nas ruas. Mas ainda todos de máscara e muitos lugares ainda medem a temperatura antes de se poder entrar, principalmente em condomínio, o que é o caso de onde eu moro. Mas importante frisar que escolas e universidade ainda não voltaram ao normal. Meu doutorado, que é presencial, está sendo feito on-line neste semestre por causa da epidemia, e isso vale para as escolas. Outra coisa importante de mencionar é que, agora no final (espero) da epidemia, a China está muito atenta ao que vem do exterior. Os poucos casos novos e todos vieram de fora.

JC – Então tudo já voltou ao normal?

E – Ainda não é como se tudo tivesse voltado ao normal. Ainda há bairros bloqueados em quarentena, pois apesar de o número de casos novos estar muito mais baixo, ainda há os infectados em recuperação. Nesses bloqueio sempre há funcionários do governo controlando a entrada e saída. Somente de pessoal autorizado, claro. Quem está dentro, não sai, e quem está fora, não entra. Mas a grande maioria do povo chinês segue a risca sem reclamar ou causar problemas.

JC – O que você observa como fator importante para contenção do vírus no país?

E – É cultural o povo chinês confiar muito no seu governo. E também é cultural deles não quererem contagiar os outros. Aqui, o uso de máscaras nas ruas é algo absolutamente comum. É só pegar um resfriado para o chinês usar e tentar evitar de contagiar os outros.Em tempos sem epidemia, impossível você não se esbarrar com pelo menos um chinês de máscara. Aviões que chegam do exterior fazem desembarque em portões específicos, onde já tem um ônibus esperando para levar todos os passageiros para fazer exames. Os que não apresentam sintomas são encaminhados a um hotel para uma quarentena obrigatória de 14 dias, e os que apresentarem algum sintoma, claro, são encaminhados a um hospital.

JC – Houve alguma tentativa de quebra de quarentena por razões econômicas?

E- Não. De forma alguma. E aqui, o isolamento foi para todos. Até porque os jovens e saudáveis têm um potencial maior ainda de transmissão, pois muitos são assintomáticos, mas infectam as outras pessoas. Pode acontecer de ter o vírus, não saber e contribuir com a morte de um monte de pessoas que fazem parte dos grupos de risco.

JC – Algum conselho para nós aqui no Brasil?

E – Algo importante a dizer é que, além de todas as recomendações básicas de evitar contato, lavar bem as mãos, desinfetar etc, devemos nos manter saudáveis. Boa alimentação e prática de exercícios. Se uma pessoa saudável pega a doença, trata-se dos sintomas individualmente que tem grandes chances de se recuperar, mas com uma saúde debilitada a história pode ser outra. Pesquisem embasados na ciência e bom senso.

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