G.R.I.T.O – RAPPER DA CIC FAZ CORO À LUTA ANTIRRACISTA

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“Ceis tão com síndrome de Morgan e o choro é free, man”, canta o artista em novo single em parceria com Lua D’Avila

Por Saulo Schmaedecke

 

Faz quanto tempo que a gente está lutando pelas nossas causas?”, artistas provocam branquitude a refletir.

Foto: Isabella Lanave (@isalanave)

Com inspirações no afro rap, ‘G.R.I.T.O’ é uma denúncia a escravização ocorrida no Brasil e como ela se beneficia até hoje de corpos racializados. O feat. é cantado a partir de vivências de um homem negro e uma mulher negra em uma sociedade marcada pela violência racial. Para os artistas, o lançamento também surge como uma provocação a branquitude a olhar para seu próprio racismo.

Entre áudios e figurinhas, conversamos um pouco com o Mano Cappu, artista da CIC que reúne há mais de 15 anos uma ótima produção de rimas e músicas sobre a realidade local. Ouvimos sobre novidades e antiguidades, a música lançada na última sexta-feira (19) e outras ideias que logo mais saem do papel.

Como você está hoje, Cappu? Como tem passado essa fase da quarentena?

Preocupado com tudo o que está acontecendo no mundo e de como será o futuro. E também desenvolvendo meus trabalhos com música e cinema… entendendo os processos de como se cria um filme. Vou dirigir meu primeiro filme que vai se chamar “Bença”, um curta-metragem sobre meu processo prisional injusto. Vou usar o cinema pra contar nossas histórias. Nós somos sempre cinematografados por olhos brancos e chegou a nossa vez de cinematografar. Cinematografar a CIC, as histórias pretas… e assim nós vai da CIC pro mundo. Tô passando pela pré-criação do meu álbum, fazendo essas coisas na quarentena. Tô com os meus pais, os meus filhos, com a minha companheira e estudando essas coisas, pra poder passar algo bonito pro mundo quando for o momento certo. Firmeza?

Qual a sensação de ver o “G.R.I.T.O” no ar?

Foi muito massa o dia de lançamento dela. Como a música chega numa cena curitibana que nós entendemos como um pouco menor do que uma grande metrópole que é São Paulo. Eu gostei de como ela chegou, sabe? A sensação do “G.R.I.T.O” no ar está maa-ravilhosa.

Ouça “G.R.I.T.O” e conte para nós qual o verso predileto! Clique no link da imagem a seguir:

A proposta foi retratar dois anjos negros em escala monumental sobre a Terra, como símbolos de luta e de resistência, conectados à vontade do ser humano de criar música, de se expressar e de passar adiante seu conhecimento e sua história.”

Colagem digital: Hugo Bastos (@_.lunatico._)

Sobre a identidade visual do single

Quando ele [Hugo Bastos] ouviu a parte que eu canto “com as minhas asas pretas vou voar o mundo inteiro”… ele ouviu essa rima e veio com os rostos de duas crianças que também é tão simbólico para nosso presente momento no Brasil. É até triste falar de como a gente ainda tem que narrar nas nossas músicas as histórias tristes.

Pensamos ser necessário trazer novas perspectivas para falar sobre o tema, para que as pessoas possam imaginar pretos e pretas livres. Já carregamos um estigma muito grande e as pessoas precisam pensar um pouco além para observar outras realidades”, comenta Daniele Oliveira (@daniolr), diretora criativa, responsável pela criação e beleza do ensaio.

Foto: Isabella Lanave (@isalanave)

A produção musical do single foi realizada por André Garcia,

e a gravação, mix e master no Studio Kontratak (@studiokontratak)

Com o single, Lua estreia a sua carreira também como compositora. A artista participa do cenário musical da cidade, no R&B, samba e rap. “G.R.I.T.O” é sua primeira composição autoral. (@luad_avila)

foto: Isabella Lanave (@isalanave)

Quando surgiu a ideia para o feat. com a Lua D’Avila? Como foi reunir as letras com ela?

Tem um tempo que a gente escreveu essa música, falar que tem de um ano pra mais… A parte da Lua é incrível, uma cantora maravilhosa e a gente tá fortalecendo o corre dela, sempre acreditando em pessoas que fazem um belo trabalho e que precisam ser ouvidas e vistas, né?

“A história dos povos africanos escravizados no Brasil são resumidas a relatos sobre navio negreiro, casa grande e senzala. Até hoje, nós buscamos nos escombros nossas memórias e nossos ancestrais”, comenta o rapper.

foto: Isabella Lanave (@isalanave)

De que forma os protestos contra o racismo aqui e no mundo influenciaram a música? Como você vê essas manifestações?

Como já falei, a música antecede esse tempo dos protestos, mas acredito que a vida imita a arte que também é uma forma de mostrar como a gente fala disso há tanto tempo. A gente sempre tá falando disso. Às vezes as pessoas acham que é uma onda, que a gente tá fazendo uma onda, “ai, agora é moda, vamos falar sobre isso”, saca? O movimento negro, o rap, a gente sempre falou sobre essas questões. Se essas pessoas hoje estão fazendo esse protesto é porque de alguma forma algum rapper, algum pensador negro, qualquer ação antirracista conseguiu ser uma semente dentro dessas pessoas e fizeram com que elas eclodissem nesse momento dos protestos das Vidas Negras Importam.

 

Single em parceria com Lua D’Avila faz coro ao momento global de enfrentamento ao racismo.

foto: Isabella Lanave (@isalanave)

Quem você está ouvindo-lendo-assistindo agora?

Uma carretada de livros: “Um defeito de Cor”, da Ana Maria Gonçalves, “Escravidão”, do Laurentino Gomes, “Eu sei porque o pássaro canta na gaiola”, da Maya Angelou, “Lugar de Fala” e “Quem tem medo do feminismo negro?”, da Djamila Ribeiro, lendo também Chimamanda Ngozi Adichie… Um filme que sou apaixonado é Atlantique (da diretora senegalesa Mati Diop), o doc do Malcolm X que é maravilhoso pra assistir, Bacurau, curta-metragens… ouvindo bastante música, tô ouvindo MHCDow RaizJanine MathiasSiameseYaz, artistas de Curitiba, bastante gente fazendo um som bom!

CWBLACK”, playlist com curadoria de Mano Cappu!

https://open.spotify.com/playlist/3IpCrI8TGUOglJXdxSSPm5?si=Gl3gi4ItS1KhyisALlSBeg

O figurino é assinado por Vanessa Cordeiro (@atiavane), stylist e empresária do Brechó

das Debochadas. A direção de arte dos materiais produzidos é de Vinícius Mafra (@v.mafra).

Ouvi dizer que tem álbum a caminho, ou estou sonhando?

Vai vir um álbum, meu primeiro álbum. O álbum “UFA”. Já tem algumas partes em processo de criação e tá pra sair em 2021. Vai ter algumas participações da cena local, tô olhando muito pra Curitiba no momento e nos reconhecendo como curitibanos. Estamos no sul, tem outras coisas que o norte não trata, o sudoeste não trata, então aqui no sul do Brasil, a gente tem que ter outras lutas e outras estratégias pra combater algumas questões. Combater, falar… e também cantar sobre as festas daqui. Nem tudo é treta, nós também temos festa, também nos apaixonamos.

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